segunda-feira, outubro 27, 2025

Aprendendo a ler

Eu me pergunto se eu deveria estar sentindo tantos sentimentos complicados tão cedo.

Será que eu deveria me preocupar em não responder às suas mensagens rápido demais, para que você não ache que eu vivo em função de esperar você falar comigo? Porque eu não vivo — mas também não vejo por que esperar para te responder, já que eu gosto tanto de conversar com você.

Ou me preocupar em não chorar na sua frente, para que você não me ache instável? Porque eu não sou — só acho que não faz sentido me fechar justamente com quem eu amo.

Será que eu deveria me preocupar em não te contar tudo isso que me incomoda, com medo de que você ache que eu sou complicada demais? Porque eu juro que não sou. Eu só sinto que a gente já não é mais como antes, e tenho medo de você não me entender se eu falar. E se você desistir da gente?

Acontece que, ao mesmo tempo em que eu tenho todos esses medos e preocupações, também fico cansada de não me sentir à vontade com você. Chega a me irritar perceber que estou pisando em ovos com a pessoa com quem espero passar o resto da vida.

Será que você sabe lidar com alguém que não é frio? Que consegue colocar em palavras o que sente e tem vontade de compartilhar? E será que eu sei lidar com as suas palavras não ditas? Será que vou aprender a ler nas suas entrelinhas?

Você me deixa tão insegura que, às vezes, é difícil lembrar que eu te amo.

terça-feira, outubro 21, 2025

Insônia

Ouvi tantas músicas hoje e queria ter dedicado todas a você. Nenhuma era particularmente nova, nem algo que a gente nunca tivesse escutado. Mas há uma sensação tão gostosa em ouvir uma música conhecida que, de repente, ganha um significado diferente — ou melhor, que nunca tinha me feito sentir a letra de verdade.

Hoje, por exemplo, reouvi Maria Bethânia cantando Cheiro de Amor, e essa música poderia facilmente ser algo que eu diria a você (queria eu conseguir traduzir o que sinto de um jeito tão bonito assim). Depois tocou Numa Ilha, da Marina Sena, e até nela consegui ver a gente — admito: é difícil não te ver em todo canto. 

Enfim, um dia desses salvei este poema no meu bloco de notas e, como diz a música, “I felt he found my letters, then read each one out loud.” Here’s to you, meu bem. Te amo mais do que consigo raciocinar em palavras.


I don’t mean to move too fast (Daniel Garrison)


I don’t mean to move too fast
but I couldn’t sleep last night
because I don’t know your middle name
or how you take your coffee
and for some reason there’s nothing in the world
I would like to know more except maybe
how your hair looks when it’s messy in the morning
and what makes you laugh until you cry
or what makes you laugh when you’re crying
either or both or all of those facts would be just fine
and I know we only just met and I don’t mean to move too fast
but I couldn’t focus this morning
because I need to know your preference in
take out food and the dreams you’d never say out loud
but secretly wish to come true
and if I were to buy you flowers
would you want them to be blue
and I know we only just met and I don’t mean to move too fast
but suddenly your voice is in my head playing on repeat
and I’ll probably never say this out loud
and I should probably get some sleep
but everything that’s significant to you
is significant to me

domingo, outubro 05, 2025

Pensamentos intrusivos

São 23h41 agora. Vamos ver até que horas eu termino isso.

Eu nem sei por onde começar. Só sei que, aos poucos, tenho me sentido menos e menos como eu -- e mais como uma espectadora de mim mesma. Como se eu olhasse para uma pessoa que se parece comigo, mas não sou eu.
Me olho no espelho e me pergunto: será que eu sempre fui assim e nunca percebi? Ou será que estou mudando?

Não sei mais distinguir o que é estar sóbria, o que é estar com pressão baixa... só sei que parece que vivo num transe há dias, e esses dias simplesmente não passam. Eu tomo meu remédio, passeio com Lelê, bebo água, vou às aulas, me alimento.
Mas parei de fazer atividade física. Praticamente não converso com outras pessoas. Passo a maior parte do meu dia em frente a uma tela, esperando alguém falar comigo -- e, no fundo, o que eu queria mesmo era que fosse ele.

Tenho certeza absoluta de que você vê minhas mensagens e, deliberadamente, demora para responder. Que sabe que eu estou sempre disponível, e se acomoda nisso, me tratando como apenas mais uma coisa no seu dia. Bizarro pensar que estamos jogando joguinhos a essa altura do campeonato!
Mas será que eu tenho mesmo essa certeza absoluta? Como eu posso ter certeza? Antes você não era assim (ou era?). Será que nunca foi diferente -- será que o que mudou fui eu?
Será que antes eu não era obsessiva... e agora sou?

É isso que passa na minha cabeça. Como se eu não soubesse mais o que é real e o que é invenção. Como se eu precisasse que alguém validasse meus pensamentos, porque sozinha eu já não consigo distinguir o que é “normal” do que é “demais”.

Por exemplo: eu nunca tinha notado que estava obcecada por você.
Essa semana eu percebi -- acho que estava mesmo. E todas as minhas amigas disseram: “é óbvio!”
Como eu nunca vi isso? Eu achava que só estava amando muito.
Não é normal falar todos os dias por videochamada? Por várias horas? Às vezes o dia inteiro?
Eu poderia fazer isso todos os dias por meses e não acho que me cansaria.
E só de escrever isso, percebo que é claro que eu estava obcecada.
Mas como é que eu não via isso antes? Eu não me sentia obsessiva.

Eu jurava que estava pulando de cabeça, de mãos dadas com alguém -- e só depois descobri que você não pulou comigo. Ficou na borda, me vendo chafurdar na água, e depois disse que não ia pular.
E eu só consigo pensar: “mas eu tinha certeza de que você ia pular comigo... não?”

Isso não deveria ser pra sempre? To be madly in love?
Por mim, eu tinha certeza de que poderia viver o resto da vida me sentindo assim. De fato, eu não estava pensando muito à frente -- e por que deveria?

Escrever tudo isso me faz perceber o quanto eu estava envolvida. Apaixonada. Endorfinada. Feliz. Amada. Vivendo o turbilhão mais delicioso de hormônios e sinapses que…

[PAUSA -- ELE ME LIGOU]

É 1h46 agora. Acho que estou me sentindo melhor. Vamos ver como eu acordo mais tarde.

De qualquer forma... nem acredito que consegui segurar todos esses pensamentos intrusivos enquanto falava com ele -- sem dizer nada além de: “você ainda me ama, né?”
Medo genuíno de estar ficando maluca.